sábado, 18 de fevereiro de 2012

Ensaio sobre Hipocrisia

É curioso como as pessoas têm mania de impor aos que praticam uma religião à sério a alcunha de "hipócritas". Segundo a ótica dessas pessoas, um devoto praticante seria automaticamente um hipócrita que usa das práticas religiosas para mascarar seus erros e, de quebra, sentir-se superior aos demais. Faça a experiência, leitor: tente corrigir algum comportamento ou doutrina heterodoxa de outra pessoa. Ela certamente dirá coisas do tipo "não julgue! Você é hipócrita, porque vai à Igreja mas está sempre cometendo erros".
Vamos investigar a origem: nos Evangelhos, Jesus acusou várias vezes os fariseus de hipócritas, por transformarem a religião num simples amontoado de preceitos e esquecerem-se o que regia e unia esses preceitos: o Amor a Deus e ao Próximo. Ele também os chamava de hipócritas por julgarem-se justos pela observância dos preceitos, mesmo que cometessem erros, às vezes mais graves e conscientes do que os erros dos que julgavam. Pois, bem: na ótica de Cristo, portanto, hipócrita é a pessoa que transforma a prática da justiça em meros aspectos formais, externos, e que usa a observância dos preceitos externos como forma de se julgar superior aos demais ou até mesmo achar-se sem pecados.
Não posso dizer das pessoas de outras crenças, pois não sei como funciona esse aspecto em suas religiões, mas certamente os católicos praticantes não se crêem superiores aos demais. Têm muita consciência de seus pecados, caso contrário não se confessariam com frequência. Ao passo de que seus acusadores muitas vezes não se confessam, fazem troça do Sacramento da Confissão e escoram-se na frase de Cristo "quem nunca pecou que atire a primeira pedra" para sentirem-se confortáveis em sua situação de pecadores, esquecendo-se do resposta de Cristo à mulher adúltera "vá e não peques mais".
Interessante observar que a confraria dos "Não julgue" são os que frequentemente emitem os mais ásperos e temerários julgamentos. Ao começar por atribuir a alcunha de hipócrita sem sequer poder perscutar a consciência e o íntimo do acusado (lembremos que Cristo pode penetrar no íntimo dos corações). Isso naturalmente não significa que hipocrisia esteja sempre relacionada ao íntimo... quando a pessoa exprime seus pensamentos e seus atos mostram desacordo, podemos constatar a existência de uma hipocrisia.
Vou dar um exemplo: os, hoje numeráveis, críticos da Igreja Católica. Revestidos de originalidade, estes críticos não fazem senão repetir clichês que ouviram da Mídia ou de professores de formação marxista que lhes deram aula no Ensino Fundamental e Médio. Resultará cômico observarmos que muitos destes críticos frequentam a Igreja ou mesmo estão ligados a ela. Muitos inclusive dependem dela! Alguns tem boa educação graças à instituição católica de ensino na qual estudaram, outros trabalham em alguma instituição ligada à Igreja. Falam mal da Igreja, mas sem ela não teriam sua atual formação ou emprego. Há também aqueles que criticam a Igreja, duvidam-lhe da sua Doutrina, mas insistem em se dizer católicos e a frequentarem os sacramentos (menos o da Confissão, claro! afinal, pecado é uma palavra muito feia!). Há hipocrisia maior do que a pessoa que mente na Missa (sim, porque pela lógica toda pessoa que reza "Creio na Santa Igreja Católica" e duvida de seus ensinamentos está mentindo) e vai tomar a Santa Comunhão sem haver se confessado?
Concluindo: vamos usar as palavras com seus verdadeiros significados. Apontemos os erros e busquemos corrigi-los. Sigamos a ordem de Jesus "não julgai segundo a aparência, mas segundo a reta justiça" evitando todo juízo temerário. Não tomemos a cátedra do Senhor tentando perscrutar as consciências alheias. E aos que criticam  a Igreja usando-se de distorções das palavras de Cristo, peço ao menos coerência.

Um comentário:

  1. A mim faz-me enorme confusão saber que há católicos que se comungam sem se terem confessado. Eu já nos meus tempos de catequese que aprendi que só se pode comungar depois de se confessar. Por isso que eu, não me tendo confessado antes, nunca me comungo. Infelizmente neste aspecto não há controlo nenhum; fica cada qual por si... e Deus sabe disso tudo.

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